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tura se lança para o espaço, exalta-se; é a arvore que hastea e procura as nuvens,; a planta pede ao céo os orvalhos e a luz do sól; a alma pede a crença, a fé, a esperança, de que se geram as flôres, que nós chamamos paixões. Na velhice, o homem se inclina de novo para a terra, como o tronco carcomido; é o pó, que, depois de revoar no espaço, deposita-se outra vez no chão. Então o velho precisa do bordão; uma das mãos torna-se pé, e calça esse cothurno da mais triste das tragedias humanas, a decrepitude.

Horacio observou de novo attentamente o objecto que tinha entre as mãos.

— A menina de quinze annos já não é a corsa de quatro patas; não está mais na alvorada da vida, na puericia; tambem ainda não chegou ao meio dia do qual aproxima-se. Comtudo, seu andar conserva ainda aquella attracção para a terra; é pesado; calca o chão com força; tem o quer que seja de sacudido, que revella os impulsos da alma para desprender-se do pó e elevar-se; assemelha a singradura do batel, que ora se levanta, ora submerge-se. Si esta botina fosse de uma menina, aqui estariam impressos esses