Assim cogitando, Horacio chegára à porta de um camarote, e pela fresta fitára com disfarce o olhar em Laura, cuja mão, excessivamente pequena, e calçada por uma luva muito justa, custava a segurar o binoculo de madreperola.
O moço, apenas reconheceu o vestido de seda violeta, e a mãosinha que lhe servira de phanal, abaixou o olhar para a fimbria do vestido a vêr si descobria alguma cousa, o peito, a pônta, a sombra, ao menos, do pesinho mimoso, do idolo de sua alma. Mas não foi possível: o vestido arrastava no chão; nenhum movimento fazia ondular a seda; e comtudo o mancebo ali ficou immovel, palpitante de emoção, como si esperasse dos labios da mulher amada o monosyllabo que devia dicidir de seu destino.
A paixão que o mancebo concebêra pela dona incognita da botina achada, longe de-se desvanecer, adquirira uma vehemencia extrema. Horacio, o feliz conquistador, o coração fogoso e inflammavel, nunca ardêra por mulher alguma, como agora ardia, por aquelle pesinho idolatrado. Era um verdadeiro amor de leão, terrivel e indomito; era um delirio; uma raiva.
Seus amigos já não o reconheciam; elle appa-