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almofada de velludo escarlate, sobre uma mesinha de charão, embutido de madreperolas. Tirava de um elegante cofre de platina a mimosa botina, e com respeitosa delicadeza deitava-a sobre a almofada, de modo que se visse perfeitamente a graciosa fórma do pé que habitara aquelle ninho de amor.

Então accendia o charuto, sentava-se n’uma cadeira de espreguiçar, defronte, porém, distante, para que o fumo não se empregnasse na botina, e ficava em muda e arrebatada contemplação até alta noite.

Sobre aquella botina via elevar-se como sobre um pedestal, um vulto de estatua, mas vago, indistincto; e comtudo esse esboço sem fórmas seductoras, aquella sombra sem alma e sem calôr lhe parecia de uma belleza deslumbrante. Não era ella a mulher a que pertencia o mais formoso pé do mundo, o mimo, a obra prima da natureza?

Recordava-se das mulheres mais bonitas que tinha visto, das mais lindas senhoras a quem amára com paixão, e sua memoria as trazia todas, uma após outra, para as collocar ao lado daquella figura vaga e desvanecida, que plainava