o pé. Mas que importância não tomava a seus olhos esta parte do corpo! Era preciso ouvi-lo, em algum momento de arroubo, para fazer idéia de sua admiração por esse membro da criatura racional.
Depois de trabalhar muitos anos em casas francesas, o mestre fluminense resolveu estabelecer-se por sua conta. Alugou uma pequena loja de duas portas, onde trabalhava com dois oficiais. A necessidade de ganhar o pão o obrigava a tornar-se mercenário, fazendo obra de carregação para vender barato. Mas no meio dessa tarefa ingrata tinha ele suas delícias de artista. Meia dúzia de fregueses, conhecedores da habilidade do sapateiro, preferiam seu calçado ao melhor de Paris, e o pagavam generosamente. Essas raras encomendas, o Matos as executava com enlevo; revia-se em sua obra, verdadeiro primor.
Leopoldo não era um freguês da última classe; ele não conhecia a voluptuosidade de um calçado macio, antes luva do que sapato; seu pé não era um enfant gaté, um benjamim acostumado a essas delícias; desde a infância o habituara a