estavam no mostrador sobre folhas de papel e prontos a serem embrulhados.
Leopoldo, chegando-se para o balcão, principiou a examinar a obra acabada, com a distraída curiosidade de quem deseja esperdiçar alguns momentos, para escapar a um aborrecimento ou para apressar um prazer. Era trabalho fino do mestre, e contudo não excitaria grande atenção da parte do moço, se não fosse um par de botinas de senhora já usadas e meio encobertas pelo papel com outra obra. A medida era enorme no comprimento e na altura; por isso, como pelo feitio, devia excitar-lhe reparo.
Na véspera quando viera à loja, casualmente observara a obra que o Matos estava acabando. Vendo há pouco na Rua do Ouvidor o pé monstruoso da moça, tivera uma confusa e tênue reminiscência das botinas da loja. Fora esse o fio misterioso que o conduzira insensivelmente àquela casa. Agora compreendia a encadeação: a botina monstro pertencia sem dúvida ao pé aleijão.
Leopoldo depois que entrevira sob a orla do vestido o pé da moça, ainda alimentava uma dúvida, que pretendia cevar com todas as sutilezas e argúcias