Foi Leopoldo, que, percebendo junto de si o sapateiro parado, afastou-se do balcão, receando ter sido indiscreto. Ia sair, quando entrou na loja um lacaio de libré azul com vivos de escarlate e branco. O mancebo o reconheceu pelas feições; era o mesmo que o impedira de chegar à portinhola do carro, na Rua do Ouvidor.
— Ah! exclamou o Matos, avistando o criado. Está quase pronto.
— Não posso esperar! replicou o lacaio com a insolência do rafeiro de casa rica.
— É só embrulhar.
Leopoldo disfarçava; fingindo olhar o calçado exposto na vidraça, viu de esguelha o sapateiro tirar a fôrma da outra botina, bater o ponto e dar o último polimento à sua obra; feito o que arranjou o embrulho.
— Está bem amarrado? perguntou o lacaio. Olhe que da outra vez já se perdeu uma botina por sua causa, e eu é que levei a culpa.
— Não tenha susto; desta vez está bem seguro, respondeu o Matos.
Foi-se o lacaio; e Leopoldo com o semblante carregado de tristeza, despediu-se, arrependido