Um soluço afogou as tristes lucubrações do mancebo. Ele repassou outra vez na mente as circunstâncias de sua triste descoberta; quis duvidar, combateu pertinazmente sua própria razão que lhe apresentava a realidade, e afinal sucumbiu, curvando-se à implacável certeza. Tinha visto uma vez, e como essa não bastasse, o acaso lhe oferecera ocasião de apalpar a verdade e saciar-se dela.
— Não se admira a Vênus de Milo, uma estátua mutilada? dizia o mancebo relutando contra sua viva repugnância. Não se admira o primor da arte grega, apesar de não restar dela mais do que uma cabeça e um torso de mulher? Essa beleza truncada não vale a beleza aleijada? A mutilação não repugna tanto ou mais do que a deformidade?
A razão de Leopoldo não o deixava embalar-se muito tempo nesse pensamento consolador Replicava logo, refutando vigorosamente as argúcias do coração:
— A estátua mutilada, que excita a admiração do mundo, não é a cópia integral da beleza que lhe servia de tipo, mas um fragmento apenas dessa cópia. A alma, que se extasia na