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ISSN: 2317-2347 – v. 9, n. 2 (2020)
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inadequado semanticamente e tendo sentido diferente daquele que se buscava, embora tenha uma legítima feição tupi.

Ecoporanga (ES) - Este topônimo porta lexemas do tupi antigo, faltando-lhe, contudo, o prefixo de relação T- para ser um nome correto naquela língua. Deveria, assim, escrever-se Tecoporanga. Tal localidade do estado do Espírito Santo recebeu tal nome quando foi elevada, por lei estadual, à categoria de município, em 1955.

Buritama (SP) – É uma incorreta variante de buriti retama, “terra dos buritis”, que fere as regras de composição do tupi antigo. Nome criado em 1948, quando o distrito de Palmeiras, chamado depois, em 1919, Buriti, tornou-se município.

Unaí (MG) – É um nome composto, que, para significar aquilo que seus criadores pretendiam, fere as regras de composição do tupi antigo ou das línguas gerais deste originadas. Unaí foi um distrito criado com o nome Rio Preto, por lei provincial de 1873. Por lei estadual de 1923, o distrito de Rio Preto tomou o nome atual. Ora, naquelas línguas indígenas mencionadas, o adjetivo qualificativo nunca antecede o substantivo. Rio Preto deveria, assim, traduzir-se por ‘yúna, resultando no nome próprio Iúna.

Jaguariúna (SP) – A mesma coisa ocorreu com o nome do município paulista de Jaguariúna. Em 1896 foi criado por lei estadual o distrito de Jaguari, subordinado ao município de Mogi-Mirim. Por decreto-lei estadual de 1944, o distrito de Jaguari tomou o nome Jaguariúna, que conservou ao se tornar município, em 1953.

Vemos no brasão de Jaguariúna (Fig. 1) a motivação do criador de seu nome: uma onça preta à beira de um rio azul. Ora, “rio da onça preta”, em tupi antigo, deveria traduzir-se por îaguaruny, resultando no topônimo Jaguaruni. A forma Jaguariúna fere as regras de composição do tupi antigo, do qual foram tomados os étimos de tal palavra.

Figura 1 - Brasão do município de Jaguariúna (SP)

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