não houve estratagema de que não lançasse mão. Responda-me, não é exato?
— Alguma vez o neguei?
— Diga-me do fundo da sua consciência: julga que um pai no desespero podia fazer mais por um filho do que eu fiz pelo senhor?
— Juro que não! disse Jorge, estendendo a mão.
— Pois bem, agora é preciso que lhe diga tudo.
— Tudo?
— Sim; ainda não concluí. Os seus desvarios de três anos arruinaram a sua fortuna.
— Eu o sei.
— As suas apólices voaram umas após outras e foram consumidas em jantares, prazeres e jogos.
— Resta-me, porém, a minha casa comercial.
— Resta-lhe, continuou o velho, carregando sobre esta palavra, a sua casa comercial, mas três anos de má administração deviam naturalmente ter influído no estado dessa casa.
— Parece-me que não.
— Sou negociante e sei o que é o comércio. Depois que o vi finalmente voltar à vida regrada, quis ocupar-me de novo dos seus negócios; indaguei, informei-me e ontem terminei o exame da sua escrituração, que obtive de seus caixeiros quase que por um abuso de confiança. O resultado tenho-o aqui.
O velho pousou a mão sobre a carteira.
— E então? perguntou Jorge com ansiedade.
O sr. Almeida, fitando no moço um olhar severo, respondeu lentamente à sua pergunta inquieta:
— O senhor está pobre!