Sentado no telônio, sobre o estrado, esclarecido pela frouxa luz de uma lâmpada de azeite de mamona, o primeiro ministro da Justiça de El-Rei folheava os autos e os ia aviando, não sem escaparem-lhe algumas observações, que nada tinham com as ordenações e os provarás.
— Han-han!... murmurava com certo sonsonete; cá está o Matias Cosme!... Havemos de ver agora em que param as soberbias!... Se, torna a voltar a cara para não se desbarretar quando eu passar? Tornara!...
Salpicou o magistrado esta última palavra com um riso de mofa, e guardou no fundo da gaveta os tais autos, passando a examinar o seguinte da rima que tinha à esquerda, e que a um e um transferia para a direita.
— Oh! oh! oh!... exclamou entre riso. Patrono do réu, o Duro! Há de levar a liçãozinha do costume, para não se ter em conta de grande letrado!... Cuida lá de si para si que pode ensinar aos mais, o pedante!...
Sem consultar a ordenação, nem recorrer ao sujo canhenho, travou o nosso magistrado da pena, e escreveu dum jacto Indeferido, tendo o cuidado de calcar a mão para fazer uma letra bem grossa, já que não podia em voz ainda mais