— Assusta-me a mim, Duarte de Morais, que não sei que há de ser de nós quando se acabar o resto das economias! acudiu Úrsula.
— Bem vedes, amigo, que não deveis sujeitar a privações a companheira de vossa vida, por um escrúpulo que me ofende. Não quereis reconhecer que esta soma vos é devida, nem me concedeis o direito de obsequiar-vos com ela; pois sou eu quem vos quero dever.
— A mim, Aires?
— Faltou-me referir uma circunstância do combate. A mulher do corsário francês arrojou-se ao mar, após o marido, deixando-me nos braços sua filhinha de colo. Roubei a essa inocente criança pai e mãe; quero reparar a orfandade a que voluntariamente a condenei. Se eu não fosse o estragado e perdido que sou, lhe daria meu nome e a minha ternura!... Mas para um dia corar da vergonha de semelhante pai!... Não! Não pode ser!...
— Não exagereis vossos pecados, Aires; foram os ardores da juventude. Aposto eu que já vão arrefecendo, e quando essa criança tornar-se moça, também estareis de todo emendado! Não pensas como eu, Úrsula?