— Estou vendo, Maria da Glória, que lhe meto medo?
— A mim, Senhor Aires? balbuciou a menina.
— A quem mais?
— Não me dirá por quê?
— Está sempre alegre, mas é ver-me e fechar-se como agora nesse modo triste e...
— Eu sou sempre assim.
— Não; com os outros não é, tornou Aires fitando os olhos em Caminha.
Mas logo tomando um tom galhofeiro continuou:
— Sem dúvida lhe disseram que os corsários são uns demônios!...
— O que eles são, não sei, acudiu Antônio de Caminha; mas aqui estou eu, que no mar não lhes quero ver nem a sombra.
— No mar têm seu risco; mas em seco não fazem mal; são como os tubarões, replicou Aires.
Nesse dia, deixando a casa de Duarte de Morais, conheceu Aires de Lucena que amava a Maria da Glória e com amor que não era de irmão.
A dor que sentira pensando que ela pudesse querer a outrem, que não ele, e ele somente, lhe revelou a veemência dessa paixão que se tinha imbuído