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Collecção Antonio Maria Pereira

inscripção de um conto de reis. Vendeu a sem vacillar. Aquillo, como capital, não valia nada. Reduzida a dinheiro corrente, dava-lhe certo ar de noivo endinheirado. Queria comprar flores caras e metter se n'uma carruagem sempre que lhe apetecesse, á hora de andarem os amigos pelas ruas. Gosava muito acenando-lhes então n'uma atitude de saboreada commodidade.

Depois, tivera tambem a feliz idea de ir até ao Minho, participar á tia Amalinha o projectado enlace, empregando pacientemente a corneta acustica. E trouxera de lá outra inscripção, outro conto, logo reduzido a metal sonante, para pôr com certos toques de luxo a casa, e offerecer á noiva uma joia com muitas pedras, que o Illustrado descreveu minuciosamente.

Não queria que o casamento rebaixasse a sua mulher aos olhos meticulosos dos amigos aristocratas. Quiz a ceremonia nupcial com muito estadão. Houve muitos convites, muitas carruagens de libré, e muitos doces complicados, servidos pelo Ferrari.

A noiva desapprovava alguns gastos; mas o Antonio dirigia tudo, com um autonomismo que não parecia propenso a concessões. Queria que n'aquellas cousas apparecessem como quem eram — dizia.