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Retalhos de Verdade
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A' mesa era impertinente e queixoso. Reclamava contra o azeite e a manteiga, se não eram de primeira qualidade. Tinha o mau sestro de cheirar a comida antes de a provar. Queria queijos finos e gostava de doce á sobremesa, uns dias por outros, já que não sempre. Só bebia vinho puro. Era apuradissimo no chá e no café. Punha camisa limpa todos os dias, engommada a polimento. Impacientava-se porque a criada, que era ao mesmo tempo cozinheira, servia á mesa peior do que antes; e protestava o proposito de tomar um criadito para a ajudar. Resmungava, se via o gato tristonho porque lhe não tinham comprado peixe. E era de tal calibre o Seraphim que, á falta de carapau, havia que comprar-lhe linguado ou pescadinha.

O cruel problema financeiro, sempre pendente, punha no ar um constrangimento plumbeo. Raras palavras trocavam os dois, que se não referissem ao mesmo thema, irritante, insoluvel.

O Antonio considerava a mulher uma pessima administradora. E dizia-lh'o sem hesitação. Punha-lhe exemplos para convencel-a. Um alferes ganhava menos que elle. E essas familias viviam. Parecia até que logravam certo desafogo. Viam-se aos domingos na Avenida, e aos