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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

— Um prato que já teve um pudim dentro.

— Será bom levá-lo. Poderemos encontrar algum pudim pelo caminho. Ajude-me a pô-lo nesta sacola.

Foi difícil fazer aquilo, apesar do ajutório de Alice, que segurou a sacola com a bôca bem esticada. Mas o Cavaleiro era um desastrado. Por três vêzes, ao tentar enfiar o prato, enfiou-se a si próprio na sacola, custando muito para sair. Por fim o conseguiu e pendurou a sacola na sela, onde já havia tôda uma quitanda de coisas — até cenouras!

— Estão os seus cabelos bem seguros? perguntou o cavaleiro ao montar, julgando talvez que os cabelos de Alice fossem como as coisas que êle trazia sôbre si.

— Na forma do costume, respondeu Alice sorrindo.

— É preciso que estejam bem seguros, porque o vento aqui é muito forte — tão forte como pimenta da miúda.

— Não inventaria também você algum meio de evitar que os cabelos sejam arrancados pelo vento? perguntou Alice.

— Não ainda, mas tenho um meio de evitar que caiam.

— Desejava muito saber isso.

— Muito simples. Consiste em fincar na cabeça uma estaca onde o cabelo possa ir-se enroscando, como os pés de ervilha. O motivo pelo qual o cabelo cai é que vivem pendurados para baixo. O que cresce para cima, como os pés de ervilha, não pode cair. Esta idéia é minha. Experimente a receita.