Página:Alice no País do Espelho (Trad. Lobato, 2ª edição).pdf/113

"É INVENÇÃO MINHA"
111

um quadro indelével em sua memória. Mas esqueceu a modinha, que de fato era das mais compridas.

Quando o Cavaleiro pronunciou as últimas notas da cantiga, retomou as rédeas e voltou o cavalo para o caminho por onde tinham vindo.

— Basta caminhar morro abaixo uns metros mais na direção do riozinho, disse êle. Lá chegando você se transformará em Rainha. Mas não parta ainda. Espere que eu desapareça no horizonte. De longe acene-me com o lenço. Tenho necessidade dêsse gesto para encorajar-me.

— Esperarei, sim, respondeu a menina comovida. E muito obrigada por acompanhar-me até aqui. Obrigada também da cantiga, que estava linda.

— É, mas você não chorou, como eu esperei, disse êle ressentido.

Houve as despedidas. O Cavaleiro dirigiu-se lentamente para a floresta e Alice, imóvel, ficou a acompanhá-lo com os olhos. Lá vai êle cambaleando e caindo como sempre! Caiu agora! Montou de novo! É de tanta bugiganga que leva na garupa...

E assim aos boléus o Cavaleiro chegou ao ponto marcado para a despedida com o lenço. Alice sacudiu o lenço no ar por uns minutos, até perder o Cavaleiro de vista.

— Creio que o satisfiz, disse ela, e agora toca a correr morro abaixo para alcançar o riozinho. Vou finalmente virar Rainha!

Correu. Alcançou a margem do regato.

— Viva! Estou na Oitava Casa! exclamou radiante.