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Cruzavam-se na estrada, paravam no meio do caminho para voltarem a cima com algum descorajoso que não tinha pernas para mais, ajustavam por todos os preços, gritavam para o povo que seguia a pé, obrigando-o a saltar para fóra do caminho, para o matto curto da serra, que parecia uma fornalha a arder.

O pequeno phaeton de João de Mello passava, elegantemente posto e guiado com firmeza, por entre toda aquella inferneira de carros, desde o envernizado char-à-bancs ás galopadas, trasbordando de gente até ao tejadilho, a velha victoria comprada em segunda mão, a caleche, o coupé, até ao classico carro toldado com vistosas colchas de ramagens, vindo das terras onde o macadam não chegava ainda e que só os bois podiam arrastar. Dentro, as senhoras levantavam os vestidos para os não enxovalhar ao pé das canastras da merenda e riam e gralhavam como quem na roda do anno tem poucas festas assim.

Bella, vestida de branco, com um largo chapéo egualmente branco, que lhe punha uma tenue sombra no rosto enrubecido, endireitava-se risonha e firme na almofada, segurando as redeas nas pequenas mãos muito habeis.

João, ao seu lado, concentrava toda a attenção na maneira de seguir por esse caminho eriçado de impedimentos, e pedia-lhe que tivesse cautella, que fosse devagar. Mas quê? ella sentia um prazer louco e uma certa vaidade em levar o cavallo a trote, furtando-o a todos os perigos, não deixando que nenhum outro carro lhe passasse á frente. As azas do seu fino narizito