Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/167

de dotes. E tambem não gostava de vêr o João ligado á maior parte das mulheres que conheço.

— «Eu não me casarei nunca!

— «É possivel, mas não é provavel, filha. Eu sei que não admittes o casamento como estado social, como unico emprego para a arrumação da mulher, mas és muito affectiva e muito expansiva para que as amisades de teu tio e a minha, por maiores que sejam, te possam encher a existencia.

— «Maria Helena — respondeu Bella sombriamente — tu sabes o segredo tristissimo da minha vida, comprehendes que não posso casar, que não posso, ou não devo, gostar d’elle, de ninguem que seja honesto. Não, não posso amar a sério!...

— «Oh, filha!...

— «Sou brutal, não achas? Mas concorda em que sou rasoavel. Imaginas que teria a triste coragem de contar ao João, ou a outro qualquer homem que amasse — e se o amasse é porque o julgava honesto e bom — que meu pae fez dividas que não pagou, e jogou o que tinha e o que não tinha, fugindo sob a maldição de toda a sociedade, e vive sabe Deus em que miserias, ou morreu de fome e vergonha?! Querias que impudicamente abrisse a minha alma e lha mostrasse despedaçada como ma fez a vergonha de meu pae? Querias isto? Não! Ha muito que resolvi não casar, para me não prostituir acceitando qualquer d’esses sem honra nem brio, que pouco se lhes daria do nome de meu pae fazendo-me meu tio sua herdeira. Julgava-me