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o Jorge Cabreira fallando ao ouvido da conselheira n’uma intimidade que trazia sorrisos a todas as boccas. No coice do prestito, mademoiselle Hortense, entre o Vilhegas e o visconde d’Alvora, com o descendente de Nun’Alvares ao lado. Toda de escarlate, com cinto preto, semelhava uma papoila, e ria, encantada com aquella festa: — d’um chic hors ligne. Perfeitamente aristocratica: já lhe parecia estar em Cintra ou n’outra villegiatura civilisada. Nem menos de tres viscondes, um conselheiro, uma baronesa e duas viscondessas, não fallando dos bachareis, que esses eram a élite do pensamento — voltava-se toda para o Vilhegas, envolvendo-o n’um olhar desvanecido e languido.

— «Oh, mademoiselle Hortense, sabe lá o que é vêr titulares reunidos! — commentou o d’Alvora, desdenhoso. — Em Portugal não ha o que se póde chamar uma nobreza. Em Hespanha, sim, aquillo é que é grandeza! Uma vez em casa do duque d’Ossuna, a uma ceia, reunimo-nos seiscentos titulares.

— «Ih!... Essa agora foi d’arromba; o que vale é estarmos ao ar livre, oh Visconde! — commentou o D. Manuel Pereira.

— «Não acreditas? Pois olha que em Hespanha ha trezentos duques, fóra o resto. Palavra d’honra, oh menino!...

Quanto mais crúa fosse a mentira, com mais segurança elle fallava, endireitando-se, estendendo a mão em juramento, torcendo o bigode encerado.

Decididamente, mademoiselle Hortense estava com a sua gente. Era impagavel aquelle Visconde.