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Bella, que durante todo o tempo conversara com João e com o Telles, disse a este, vendo-o recusar o vinho loiro e perfumado que o chefe da mesa vinha offerecendo:

— «O quê?! O sr. Telles não bebe vinho?!

— «Oh! não, minha senhora! Não posso tomar nada que me excite os nervos doentiamente emotivos...

— «É incrivel! Um poeta não beber o nectar que reluz como topasio no fundo da copo, é quasi uma blasphemia. Não sei que poeta latino disse que parecia impossivel que se trocasse por miseraveis moedas de prata o oiro liquifeito e perfumado que se vertia em taças de crystal, nos banquetes da civilisada Roma!?...

— «Apesar de toda a sua decadencia ainda podiam com isso os descendentes de Romulus, mas nós, os abastardados filhos dos grandes navegadores, com os nervos crispantes como temos...

— «E porque tem assim os nervos? Uma raça só é decadente quando o quer ser pelo desleixo da sua educação e costumes... Mas não vamos entrar agora em sabias discussões educativas, que mal iriam a um fim de jantar em pleno campo. Diga-me antes, que mal lhe poderá fazer uma gotta de Kumel tomado com o café?

— «Mas se eu tambem não bebo café!

— «Tambem não? Nem fuma, aposto! É então um verdadeiro regimen de abstinencia a que sujeita esses pobres nervos pelo crime de sentirem a vida com mais acuidade?!...

Divertia-se a faze-lo fallar, com a presumpção do costume, sobre a neurasthenia artistica que