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Desde manhã que as meninas Souzas, em saias de baixo e papelotes, mascaradas de cold cream para amaciar a pelle, o collete apertado para adelgaçar a cinta, se afadigavam nos ultimos preparativos, fazendo uma préga mais funda, cosendo plissés, lustrando os sapatos e lavando as luvas, mandando a criada percorrer as lojas, pondo emfim a casa n’uma dobadoira para que os seus vestidos fizessem morder de inveja as amigas Cunhas e as delambidas das Costas mais as do recebedor e as do escrivão... Umas e outras não pensavam n’outra coisa e contavam as horas com a solicitude de quem vae contando os momentos que os separa da suprema felicidade.

A Viscondessa, innocente causa de tantos cuidados e despezas, desde as oito horas que entrara na sala e conversava com os convidados que já a esperavam perfilados em trajes de gala.

Mal terminara o jantar subira a mudar de vestido e descera logo por saber o costume da velha-guarda, as Rebellas com as suas saias embaloadas de sedinha antiga, a irmã do velho abbade, o Domingos e outros, que ainda pertenciam aos bons tempos honestos em que os saraus terminavam com escandalo depois da meia noite.

Isabella, desejosa de ajudar a amiga e tambem porque a espicaçasse a curiosidade de ver o primeiro desfilar solemne de toda aquella gente que já conhecia, apressou-se a descer á sala de recepção.

O seu rosto delicado de pequena loira estava como nunca de um encanto espiritual, que enlevava.