Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/224

— «Então hoje está o caso muito feio; hein? Vamos lá ver.

Dirigiram-se para a outra sala emquanto o juiz rodeava, arrastando a perna e trauteando o estribilho favorito, até ao grupo das senhoras ás quaes costumava dirigir grosserias que imaginava deviam tomar por amabilidades.

— «Oh sr. Telles — dizia a baroneza, para terminar a conversa das vidas alheias que já a enfadava — eu tinha pedido aqui ao seu amigo para interceder por nós junto de v. ex.ᵃ.

— «Que valor tenho para merecer um pedido de v. ex.ᵃˢ?!...

— «Tem o valor de ser poeta, acha que é pequeno? Nós queriamos ouvir recitar alguma das suas poesias.

— «Oh, sr.ᵃ baroneza, os meus pobres versos são pedaços d’alma angustiada que não podem interessar aos felizes da terra!...

— «As obras d’arte, quando sinceras, são comprehendidas por todos e commovem as almas menos sensiveis, não é verdade, sr.ᵃ baroneza?!... — disse o Vilhegas querendo que o amigo figurasse.

— «Decerto — respondeu ella.

— «Não se faça rogado, sr. Telles, j’aime beaucoup vos poésies!... — acrescentou Hortencia languidamente cerrando os olhos e apertando os beiços com denguice.

Um coro de insistentes pedidos rodeou o Telles, que se fazia grave, mettia os dedos nos cabellos, fechava os olhos, dizia não se lembrar nada do seu livro Verde-mar... Por fim, como que victimado, mas radiante de vaidade, levantou-se,