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das mãos. Só o que elle tem feito á sobrinha, que a tem em casa como filha!

— «Hum! Uma boa prenda a tal menina, segundo diz a Engracia — informou o Domingos.

— «Bonita a valer. Se a vissem no verão passado, nos annos da viscondessa!

— «Então eu não estava lá? É muito bonitinha, é!

— «Bonitinha! Onde tem você visto melhor, seu Braga?! É uma bella mulher!

— «Ó cura, você parece que se lhe não dava de casar com ella.

— «Se não fosse este diabo da batina, não lhes digo nada. Ainda que mulheres d’aquellas não são boas para pobres.

— «E parece que não tem namorado — lembrou o recebedor, sempre comezinho nos commentarios.

— «Pois quem ha por ahi capaz de a tentar?! Você imagina que ella é parva, que se não conhece? Ó Braga, você é que podia casar com ella. Levava uma mulher que muitos lhe invejariam.

— «Eu?!... Na minha idade, uma rapariga bonita, que hade querer luxos... Você vê-me algum t na testa?!

— «Não sei; ella é de fazer perder a cabeça... e você é rico... Sabe o que é ser rico? É ter tudo quanto se deseja. Se eu fosse rico como você, deixava crescer a corôa e ia até Roma para que me livrassem das ordens; depois casava com a pequena, olá se casava!... — estendia as pernas e cantarolava, esperando as cartas que o recebedor muito myope a custo despegava das mãos.