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que a benção do bispo santificaram.

Do antigo e expansivo cura de aldeia, gritando aos quatro ventos a sua revolta ao dogma, a contrariedade da vida que forçado adoptára, o despreso com que calcava as mais comesinhas noções da honestidade vulgar e consagrada, pouco ou nada restava, apparentemente.

Sempre sério, olhos no chão, viver regrado e quasi ascetico, toda a violencia d’aquelle temperamento de camponio mal desbastado se voltava agora, como arma de dois gumes, tornando-o um fanatico perigoso, que aos proprios amigos incommodava ouvir.

Entre as beatas já era tido por santo, e não faltava pobre velha senil que não affirmasse que aquella reviravolta miraculosa tinha sido visão que tivera na missa, entre o calice e a hostia.

Aproveitando a occasião e para se tornar effectivo e mais assiduo na convivencia do grupo com o qual contava subir até ao logar ambicionado, lembrou-se o padre Mathias de implantar n’aquelle meio, até ahi refractario a beaterios, graças ao bom do abbade, a devoção ao Coração de Jesus.

Fallou com o seu chefe, que lhe louvou particularmente o seu zelo e o aconselhou a interessar em tão meritoria obra o parocho da freguezia, porque era da melhor disciplina christã não relegar os superiores.

O cura sorriu: conhecia o bondoso velho que seguia a lettra do evangelho cuidando cumprir o seu dever de padre, não reparando, na sua simplicidade de primitivo, quanto se distanciava