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seu espirito não parecia ter mais energia do que o d’uma criança recemnascida.

O noivo, o Emygdio Vilhegas, tinha para desculpar estes caprichos e phases, discursos e theorias sobre as doenças nervosas, que deixavam os paes, senão satisfeitos, ao menos mais socegados sobre a gravidade do estranho mal.

Elle e a prima da Pillar, a Candida, que fôra a sua companheira e amiga intima desde a infancia, não podiam comprehender a quasi aversão com que a enferma os olhava e por vezes até repellia.

No principio da doença, quando a pleurezia se apresentára dupla e d’uma violencia mortal, elles arvoraram-se em enfermeiros solícitos e era impossivel exigir aos seus affectos maior vigilancia e cuidados. Mas desde que a febre cedêra e a doente começára a reconhecê-los, affastára-os systhematicamente, com uma friesa de maneiras que mais se evidenciava pelo contraste com a mãe, a quem desejava sempre ao pé do leito, sem uma hora de repouso que não fosse substituida pela velha Engracia.

— «Porquê?!...» os dois, no vão d’uma janella, n’um fugitivo momento de solidão, olhavam-se apavorados e trocavam rapidamente essa pergunta.

— «Porquê?! — dizia o Emygdio — terá acaso desconfiado alguma coisa?

— «Parece!...

— «E se diz aos paes?!

— «Que importa? Não o devem saber mais dia menos dia?... — murmurou a Candida, fitando os seus olhos carregados de duvidas nos