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a supremacia áquella que na sua voz cantada no ritmo da phrase, no choro contido a custo, consegue hypnotisar a multidão, vencer o bom senso que requer a verdade, subjugar os profanos e os descrentes até que o seu fragil corpo se estorça em gritos que arrepanham a alma, que a esfrangalham n’uma lancinante espectativa e lha atiram aos pés, frenetica de applausos, para se não dar em lagrimas e contorsões de hystería.

Outros desdenhavam a francêsa, vantajosamente apresentada a um povo que vive intellectualmente da França, copiador servil dos seus modelos, e aclamavam como a maior de todas, a mulher de verdade que a Duse se mostra, fazendo do palco uma escola de anatomia em que a sua alma escalpella com a precisão scientifica de um operador retalhando fibra a fibra o corpo que a doença ou a morte lhes trouxeram á mesa das operações.

Na frisa da direita, onde a Viscondessa e a amiga se sentavam entre os maridos, discutira-se arte, evocara-se nomes e situações em que os artistas favoritos se excediam a si proprios, e Bella lembrára Novelli, o artista que para ella, mais ainda do que a Duse, realisava o supremo ideal da arte moderna, a verdade, que é para os nossos espiritos fatigados de sentir e soffrer pela imaginativa o oasis onde nos comprazemos em descançar das orgias poeticas e romanticas de ha vinte annos.

Mas o Visconde não se sentia n’essa noite disposto a conversas que exigissem esforço de maior attenção, e a meia voz, n’uma visivel sobre-excitação de nervos que se mascarava em risos,