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têm os portuguezes para protestar contra a franco-mania brazileira, se é mal que de cá lhes foi no sangue?!...

— «Pois sim, mas deve-se mostrar o mau caminho para que se emendem, cá e lá. Amar a França, comprehende-se, porque tem virtudes e superioridadas para isso, mas pô la acima de nós mesmos não deve ser, até por decôro proprio.

— «Pois sim, filha, mas vae-lhes lá dizer! Ninguem te lerá, minha encantadora ingenua! Manda-lhes romances francezes, falla-lhes de Paris, dize-lhes coisas em nome do cerebro do mundo civilisado, como ridiculamente alcunharam aquella deslumbrante cidade que mais não tem que fazer senão pensar a sério em alguma coisa!... Falla-lhes d’esse Paris que se diverte e que todos por lá adoramos, e que não é o verdadeiro Paris, não é o que trabalha e pensa, não é a capital da França intellectual e superior, mas o Paris galante que se prostitue como mulher facil, o Paris que nos dá nos seus livros o requinte da desmoralisação elegante, o Paris emfim que adoram os estrangeiros, como eu, que lá vivi annos inconfessaveis de prazer illegal.

— «E durante esses annos era uma vez uma filha, não pensaste mais em mim!... Que terrivel corruptora é na verdade essa Paris!...

— «Não te riás, querida. Eu pensava em ti, pensava até muito... Confesso que não era sempre, vá lá... mas julguei-te por muito tempo em Inglaterra, feita uma bôa e forte miss tratada a bifes em sangue, serena, alegre sem enthusiasmo, flirtando como quem desempenha um