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Emygdio, desanimado scientificamente, queria conservar a todo o custo uma illudidora esperança; d’essa esperança sem base que está no intimo de todos os seres humanos, inferiores ou superiores, eternas crianças que somos, só fortes á custa de raciocinio e vontade consciente e educada.

Mas n’essa manhã desconsoladora de inverno, vira-a tão desmudada e cadaverica, que desanimára de todo. A correr se dirigira ao telegrapho para chamar o dr. Ramalho e para alli voltára logo e alli se conservava na espectativa do grande desastre.

Os paes encaravam-se espavoridos, sem manifestação de sentimento, porque a dôr quando assim forte é como anesthesico para o espirito que se concentra no ultimo reducto da esperança, no impossivel, no milagre...

A noite cahia com a lentidão pastosa das tardes de chuva, que se afogam em lama silenciosamente. Os criados, em bicos de pés, accendiam as luzes indispensaveis para o serviço, trocando phrases a meia voz em que a palavra morte se repetia já como um dobre de sinos, e soluços abafados se suffocavam. Por toda a casa pesava o mesmo silencio funebre que se presentia cheio de gritos prestes a explodir...

O Emygdio, junto da janella, olhava inconsciente a sombra rapida que crescia no jardim, as arvores encharcadas pingando no chão já empoçado, as hastes despidas de folhagem enlaçando n’uma alliança macabra aquellas que o inverno não pode desnudar nas suas furias loucas. Como era differente o aspecto do jardim,