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— «Tudo isso são supposições...

— «E o odio que manifestou nos ultimos tempos ao Emygdio e á Candida, a minha irmãsinha que os amava tanto?!...

— «Ora! As doenças trazem por vezes taes desequilibrios, uns pensamentos tão desvairados...

— «Sim... e tambem uma lucidez mais aguda... a minha irmã estaria louca? Não o creio, nem o doutor tambem. Alli houve qualquer coisa de anormal, e não a conhecer é o que me tortura.

— «Eu nem digo que creio nem que descreio. Não sei nada.

— «Mas heide eu sabê-lo. Os acontecimentos seguem sempre uma logica fatal, que não illudem por muito tempo um espirito investigador. Diga-me como as coisas se passaram tal qual as viu e observou que eu preciso juntar ás minhas as suas informações. Recusa fazê-lo?

— «Não, pelo contrario, julgo que é até o meu dever, visto que no teu espirito se levanta uma duvida. Fá-lo-ia com um indifferente, quanto mais comtigo que estimo como irmão; tratando-se sobre tudo da morte da Pillar, que é uma saudade vivissima para o meu coração.

O medico concentrou-se um instante e depois começou pausadamente, como quem faz um relatorio, sob os olhares ansiosos do rapaz.

— «Quando cheguei de Lisboa, chamado por um telegramma do Emygdio, fui directamente a tua casa. A Candida sahiu do quarto aos gritos, apavorada, como louca. Eu nem reparei que teu pae desvairado se debatia nos braços dos criados