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flôr na botoeira, guiava um carro ou fallava sobre arte.

Amá-lo-ia a Viscondessa por essas miudas preoccupações que tornam certos homens tão queridos á maioria das mulheres?

Mas o Visconde não era sómente isso, e decerto a mulher, cujo espirito adquirira com a convivencia vibratilidades d’artista, amava muito esse homem, dilletante na politica como na arte, colleccionador por moda, um pouco litterato e um pouco sportsman; sempre distincto, invejado e imitado.

Casados por paixão, era evidente que se amariam como no principio. E era tão natural — pensava por vezes o doutor — primos chegados, a mesma educação e tradição de familia, fortunas eguaes, não tendo uma recordação que pelos dois não fosse partilhada, deviam amar-se e ser felizes como pareciam, como toda a gente queria, apezar da delicada reserva com que se abordavam.

Pensava incoherentemente todas essas coisas, percorrendo em largas passadas regulares o restricto espaço da plataforma onde chegava a luz. Toda a tensão de nervos se lhe conhecia no mordiscar febril do charuto e no franzir da testa a cada momento.

Assim se conservava ainda, quando a gare foi invadida pelas pessôas importantes da terra, que vinham, como elle, esperar os viscondes. O Braga, azafamado, empurrando todos, grosseirão e bruto, n’uma grande preoccupação de ser sempre o primeiro. O Neves, o Domingos, as meninas Souzas e as Costas, com vestidos d’um