sem esta companhia, para quem trabalho como moiro. Se não fosse ella, fidalgo, muita asneira tinha eu feito! Quando vou ás feiras ou romarias, se a levo comigo, não bato, nem apanho; indo sósinho, é desordem certa. A rapariga já conhece quando a pinga me sobe ao capacete do alambique, pucha-me pela jaqueta, e por bons modos põe-me fóra do arraial. Se alguem me chama para beber mais um quartilho, ella não me deixa ir, e eu acho graça á obediencia com que me deixo guiar pela moça, que me pede que não vá por alma da mãe. Eu cá, em ella me pedindo por alma da minha santa mulher, já não sei de que freguezia sou.

Marianna ouvia o pae, escondendo meio rosto no seu alvissimo avental de linho. Simão estava-se gosando na simpleza d’aquelle quadro rustico, mas sublime de poesia e naturalidade.

João da Cruz foi chamado para ferrar um cavallo, e despediu-se n’estes termos:

— Tenho dito, rapariga; aqui te entrego o nosso doente: trata-o como quem é, e como se fosse teu irmão ou marido.

O rosto de Marianna acerejou-se quando aquella ultima palavra sahiu, natural como todas, da bôca de seu pae.

A moça ficou encostada ao batente da alcova de Simão.

— Não foi nada boa esta praga que lhe cahiu em casa,