— Se o senhor Simão quer, eu vou á cidade, e procuro no convento a Brito, que é uma rapariga minha conhecida, moça d’uma freira, e dou-lhe uma carta sua para entregar á fidalga.

— Isso é possivel, Marianna?! — exclamou Simão, a ponto de abraçar a moça.

— Pois então! — disse o ferrador — o que póde fazer-se, faz-se. Vai-te vestir, rapariga, que eu vou botar o albardão á égua.

Simão sentou-se a escrever. Tão embaralhadas lhe acudiam as ideias, que não atinava a formar o designio mais proveitoso á situação de ambos. Ao cabo de longa vacillação, disse a Thereza que fugisse á hora do dia, quando a porta estivesse aberta, ou violentasse a porteira a abrir-lh’a. Dizia-lhe que marcasse ella a hora do dia seguinte em que elle a devia esperar, com cavalgaduras para a fuga. Em recurso extremo, promettia assaltar com homens armados o mosteiro, ou incendial-o para se abrirem as portas. Este programma era o mais parecido com o espirito do academico: em vivo fogo estava aquella pobre cabeça! Fechada a carta, começou a passear em torcicolos, como se obedecesse a desencontrados impulsos. Encravava as unhas na cabeça, e arrancava os cabellos n’ellas. Marrava como cego contra as paredes, e sentava-se um momento para erguer-se de mais furioso impeto. Machinalmente aferrava das pistolas, e sacudia os braços vertiginosos. Abria a carta para relêl-a, e estava