pae a todos respondia com estas palavras: «A forca não foi inventada somente para os que não sabem o nome do seu avô. A ignominia das familias são as más acções. A justiça não infama senão aquelle que castiga.»

Tinhamos nós um tio-avô muito velho e venerando, chamado Antonio da Veiga. Foi este quem fez o milagre, e foi assim. Apresentou-se a meu pae e disse-lhe: Guardou-me Deus a vida até aos oitenta e tres annos. Poderei viver mais dous ou tres? Isto nem já é vida; mas foi-o, e honrada, e sem mancha até agora, e já agora ha de assim acabar; meus olhos não hão de vêr a deshonra de sua familia. Domingos Botelho, ou tu me promettes aqui de salvar teu filho da forca, ou eu na tua presença me mato. — E dizendo isto, apontava ao pescoço uma navalha de barba. Meu pae teve-lhe mão do braço, e disse que Simão não seria enforcado.

No dia seguinte, foi meu pae para o Porto, onde tinha muitos amigos na Relação, e de lá para Lisboa[1].

Em principio de Março de 1805 soube minha mãe

  1. N’alguns papeis que possuimos do corregedor de Vizeu achamos esta carta: «Meu amigo, collega e senhor. Entregará, ao portador d’esta, que é o senhor padre Manoel de Oliveira, as cincoenta moedas em que lhe fallei na sua passagem para Lisboa. A appellação de seu filho está a meu cuidado, e está segura, apesar das grandes forças contrarias. Seu amigo — O desembargador Antonio José Dias Mourão Mosqueira. Porto 11 de fevereiro de 1805. — Sobrescripto: Ill.^mo Snr. D.or Domingos José Correia Botelho de Mesquita e Menezes. — Lisboa.»
    (Nota do auctor).