V.

 

São treze dias corridos do mez de Março de 1805.

Está Simão n’um quarto de malta das cadêas da Relação. Um catre de táboas, um colchão de embarque, uma banca e cadeira de pinho, e um pequeno pacote de roupa, collocado no logar do travesseiro, são a sua mobilia. Sobre a mesa tem um caixote de pau preto, que contém as cartas de Thereza, ramilhetes sêccos, os seus manuscriptos do carcere de Vizeu, e um avental de Marianna, o ultimo com que ella enxugára lagrimas, e arrancára de si no primeiro instante de demencia.

Simão relê as cartas de Thereza, abre os envoltorios de papel que encerram as flôres resequidas, contempla o avental de linho, procurando os visiveis vestigios das lagrimas. Depois encosta a face e o peito aos ferros da sua janella, e avista os horisontes boleados pelas serras de Vallon