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Ás mulheres portuguêsas
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mou, meia duzia de vintens que mal chegam para um dia de fome.

É costume dizer-se para acalmar sensibilidades em sobresalto, que os pobres, habituados a comer mal, não fazem com isso sacrificio.

Certamente que uma mulher rude dos campos, de pequenina acostumada ao seu caldo de couves e ao feijão, com pão grosseiro por conducto, um bocado de porco pelas festas do anno e galinha quando ha doença, passará admiravelmente sem fois-gras, ragouts, mayonaise, vol-au-vent e toda a algaravía saborosa e complicada da comida francêsa, indispensavel a paladares aguçados por estimulantes, a estomagos gastos e que jámais se encheram com verdadeira fome.

Concordo em que uma dessas solidas camponezas felizes, que do amânho das suas terras tira o pão caseiro que seus rijos braços fabricaram numa nuvem de poeira e por suas mãos foi na pá atirado ao forno aquecido; que do leite das suas cabras tira o queijo salgado, que é um mimo para os seus paladares deseducados; que das suas oliveiras tira a azeitona,