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Ás mulheres portuguêsas
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util a todos e lhe desse para o futuro a certeza de poder contar comsigo para provêr á propria subsistencia.

A menina solteira no nosso paiz tem uma vida sem responsabilidades sociaes e a maior parte das vezes sem utilidade nenhuma.

Anda na escola ou no collegio — as que não vão para os internatos — até a saia lhe descer do joelho e roçar no cimo da bóta. Aos primeiros signaes da puberdade, os pais atarantam-se, num pánico de grandes perigos a recear, e a pequena recolhe a casa.

Depois, se a fortuna o comporta, vem o professor particular ensinar o que póde a quem não estuda nem deseja saber, desde a pintura sem desenho até á musica sem rudimentos. As que não pódem ter professores ficam em casa com o pouco que aprenderam, a esperar que os annos, na sua fugitiva carreira, lhes traga o noivo correspondente.

Vestem com elegancia, mas não sabem fazer os seus vestidos; sabem pôr sobre os seus cabellos frisados o mais disforme e complicado chapéo, mas não o sabem enfeitar por suas pro-