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A VINHA

ambição de largos mêses e dias — desde que na terra aparecera, a proposito de qualquer festa pública, um regimento de lanceiros, que o tinha enlouquecido com o seu ar soberbamente marcial e as bandeirolas, vermelho e branco, a panejarem ao sol.

Não pensava noutra coisa senão naquella sua entrada para o colegio em que todos os alunos são já pequeninos homens, pequeninos militares de botões reluzentes, barretina, dragonas, e duma compostura grave de disciplina rigida.

Fazia projectos, contava as peças do enxoval, que a mãe lhe ia empilhando na mala, lia e relia a relação das coisas que lhe mandavam levar e prometia a si mesmo só quebrar o seu mialheiro de barro quando tivesse já a farda, para ir tirar o retrato de grande uniforme.

Mas quando chegou o dia da partida e viu á porta o carro em que devia seguir, os criados arrastando as inalas, o pai gritando porque não estavam as coisas em ordem — e o comboio não espera! — quando viu a mãe soluçante por vêr partir o mais novo, o mais fraquinho, o preferido — todos o sabiam — o Luis perdeu a coragem. E chorou, choron intensamente, num soluçar fundo, proprio dessas naturezas impulsivas, febris, doentias, a que