Vistes como estava brilhante a linda praia, com a sua bela iluminação, com as suas alegres serenatas, e com os bandos de passeadores que circulavam em frente do palácio?
Havia uma expansão de contentamento e de júbilo em todas estas demonstrações com que era acolhida e festejada a vida de Sua Majestade. O arrabalde aristocrático se desvanecia por ser durante algum tempo a residência da corte.
Uma banda de música desfilava ao longo da praia, soltando às brisas da noite e aos ecos harmoniosos daquela baía alguns temas favoritos do Trovador. Os grupos de mocinhas travessas e risonhas se encontravam e se confundiam um momento numa nuvem de beijos e abraços.
Aquelas areias felizes eram pisadas por muito pezinho mimoso, habituado a roçar com o seu sapatinho de cetim os macios tapetes e o lustroso soalho dos ricos salões; e por isso, se observásseis bem, havíeis de ver entre os passeadores perdidos na multidão muito Romeu, muito Ossian, muito Goethe improvisado.
As auras da noite, que agitavam aqueles cabelos aveludados, que roçavam por aqueles lábios maliciosos, que passavam carregados de ruído, de músicas, de perfumes, trouxeram-me no meio dos rumores da festa ao lugar onde estavam uma palavras soltas que pareciam a continuação de uma conversa interrompida.
A primeira voz que me chegou ao ouvido era doce e melodiosa, era de moça, e pelo timbre devia ser de uma boquinha bonita.
— Está tudo muito lindo, dizia a voz; mas acho que falta uma coisa.
— O quê? perguntou o cavalheiro, que naturalmente dava o braço, não à voz, mas à dona da voz.
— Devia haver um fogo de artifício.
— E o há com efeito.
— Mas onde? Não vejo.
— Nem o pode ver, porque está nos seus olhos.
— Engraçado!...