Nestas noites canta como o poeta que escreve versos inspirados, como o pintor que esboça o quadro que a sua imaginação ilumina, como a alma triste que dirige a sua prece a Deus, como a moça que sorri, como a flor que se expande, como o perfume que se exala.
Os lábios vertem os eflúvios d'alma, as melodias que um gênio.
Mas isto são coisas que se sentem, que se compreendem, e que não se explicam. Ouvi um artista cantar num dos seus bons dias, e percebereis essa nuança inexprimível que vai de bem representar o bem sentir.
Ia-me esquecendo dar-vos notícia do vosso pequeno teatro, do vosso protegido, minhas belas leitoras.
Se soubésseis como vos agradece a bondade que tendes tido em anima-lo, como se desvanece pelo interesse que vos inspira!
Agora já não é somente um pequeno círculo de homens de bom gosto que aí vai encorajar o seu adiantamento e aplaudir aos seus pequenos triunfos.
Na balaustrada dos seus camarotes se debruçam as senhoras mais elegantes, as moças as mais gentis dos nossos aristocráticos salões.
O lindo rosto expandindo-se de prazer, o sorriso da alegria nos lábios, elas esquecem tudo para interessar-se pelo enredo de uma graciosa comédia.
E depois a sua boquinha feiticeira vai repetir no baile, ou na partida, uma frase espirituosa, um dito chistoso, que requinta de graça, conforme os lábios são mais ou menos bonitos.
No Teatro Lírico podeis ver um semblante triste, uns olhos vendados pelos longos cílios de seda, uma fronte pensativa e melancólica.
Mas no Ginásio o prazer roça as suas asas d'ouro por todos esses rostos encantadores; e bafeja com o seu hálito celeste todos os pensamentos tristes, todas as recordações amargas.