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— O remedio, vóvó, é a senhora e tia Nastacia meterem-se em pernas de páu também. Olhe, as suas já estão ali prontinhas, feitas sob medida — e as de tia Nastacia são aquelas acolá...

A aflição das duas velhas cresceu ainda alguns pontos. O medo de serem comidas pelas onças se somou ao medo de caírem de cima de tão compridas pernas. Mas que fazer? Ficarem embaixo, sozinhas, era suicidarem-se, porque seriam fatalmente comidas pelas onças.

Dona Benta coçou a cabeça, desanimada.

— Inutil procurar outra saída, vóvó, disse Pedrinho. As onças amanhã de manhã estarão aqui para o assalto e ou a senhora se utiliza desta defesa pernil que inventamos, ou deixa-se devorar viva. Escolha...

Não havia escolha possivel e, apesar dos seus setenta anos e dos seus varios reumatismos, a pobre da dona Benta teve de trepar na escada e ageitar-se sobre o par de andaimes que Pedrinho lhe destinara.

Custou! Alem de ter os musculos emperrados, a boa senhora era medrosissima. Por varias vezes quís desistir, e só não o fez porque os meninos não cessavam de lembrar que nesse caso seria fatalmente devorada, como a avó da menina da Capinha Vermelha. Afinal aprendeu o equilibrio e poude dar uns passos muito desageitados pelo terreiro.

— Serve, disse Pedrinho, que dirigia a aprendizagem. Já dá para escapar de onça. Tratemos agora de tia Nastácia.

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