— Não é mal feito escreverem numa língua que não se entende?
— Certo que parece falta de galanteria; mas assim usaram nossos pais.
— É que as damas então sabiam muito! replicou a moça.
— Menos que hoje, e os próprios cavaleiros mal soletravam essas palavras; isso porém não impedia que as trouxessem gravadas no coração, mais do que no escudo.
— Melhor fora que as compreendessem; o que se guarda no espírito vai-se; o que sentimos n'alma, fica para sempre.
— Oh! que as sentiam! Bebiam com o primeiro leite e só as perdiam com o último suspiro.
— Embora! Antes as queria na língua que falamos.
— Já vejo que vos enfada não poder entendê-las; não seja isso razão de quererdes mal aos nossos cavaleiros; em vindo eles vos traduzirei as letras dos seus escudos.
— Todas sem faltar uma? acudiu a menina contente.
— Desde a primeira até a última.
— Que bom é saber! disse Inesita sorrindo.