deu atenção; continuaram os outros a mirar o telhado com olhos compridos e a tentarem uma investida, de que recuavam logo pela razão sabida do tirapé. O caboclinho tinha já perdido o pudor do castigo; acostumado ao regime do bodegueiro que diariamente o moía de pancadas à vista da gente toda que enchia a taberna, era coisa de pouca monta para ele uma lambada de mais ou de menos. Arrostou pois impávido o tirapé do remendão; e em dois saltos encarapitou-se na beira do telhado. Cessou a indecisão; todos os outros, com exceção de alguns medrosos, o imitaram.
Eis por que se achou Martim feito chefe da súcia. Quanta gente deve como ele a posição elevada que alcança, a ter perdido o pudor do castigo que inflige a opinião pública?
Subido ao seu improvisado palanque, avistou o caboclinho na teia os pajens que circulavam a liça, prontos a acudir ao sinal dos vários cavaleiros a quem serviam. Entre esses chamou especialmente a atenção de Martim um rapazito pouco mais velho que ele, trajado em corpo, com pelote de belbute cor-de-rosa. Apenas o lobrigou, entregou-se a um trabalho tal de gesticulação que parecia um telégrafo em caso de perigo. Afinal como de nada lhe valessem os respectivos sinais,