em que o tempo, deixando impressa a sua passagem, respeitara a obra primitiva da natureza. Os cabelos haviam embranquecido, a tez perdera os toques rosados e murchara ao fogo do sangue que a escaldava outrora; o frescor dos traços desaparecera com o sopro ardente dos prazeres; mas aquele busto descorado debuxava ainda sob a máscara da velhice prematura as formas de um belo tipo da raça hebraica – Judite ou Madalena.
A boca, embora crestada na flor dos lábios, dizia quanta paixão e quanto amor devia ter ela desfolhado nas carícias lascivas, nos sorrisos sedutores e nas palavras ardentes, que semeara pelo caminho da vida; o seio branco, como o mármore de um túmulo, frio como ele, servia de urna às cinzas do coração que outrora o fizera arfar com os ímpetos de desejos irresistíveis; os olhos, esses brilhavam como nos dias da juventude, e pareciam o clarão da chama interna que consumira lentamente a seiva daquele corpo, como o óleo de uma lâmpada.
Ao seu aspecto adivinhava-se que essa mulher devia ter amado muito na sua vida e abandonado ao prazer uma alma ardente e insaciável. Agora, que a beleza fugira e os sentidos se acalmavam, tinha ela necessidade ainda de algum sentimento profundo e veemente que desse expansão às energias