A festa prosseguia, o coro e o cantochão continuavam alternando, quando foi ouvido na porta da igreja um ligeiro rumor causado por muitas pessoas, que voltavam o rosto para ver alguma coisa que estava passando fora.

O objeto que tanto excitava a curiosidade, a ponto de distrair assim a atenção do ofício divino, era um navio de alto porte que encoberto pelas sombras da noite se avizinhara de terra, e aos raios do sol nascente aparecia à entrada do porto com as velas enfunadas pela fresca viração da manhã.

D. Diogo acenou ao capitão de sua guarda:

— Manuel de Melo, inquiri da razão deste rumor! disse-lhe à puridade.

Nesse tempo ainda não se tinha desmoronado o tabuleiro que ficava em frente da Sé, a pique da montanha, com uma vista soberba para o mar; por isso daquela posição distinguia-se já perfeitamente o navio que velejava demandando o porto, e o casco, e a mastreação, e a bandeira espanhola a flutuar na popa. A não escassear o vento, era natural que em menos de duas horas estivesse fundeado.

A notícia transmitiu-se rapidamente. Há uma espécie de corrente elétrica nas grandes massas de povo; dois minutos depois de ouvir-se o rumor