O licenciado ergueu a cabeça de chofre, e os olhos pequeninos pestanejaram com vivacidade jovial.
— Bem aparecido, pequeno! Há bons quatro dias que não vos ponho olhos. Bem diz o ditado: “que para os moços são as festas e para os velhos as crestas”.
— Me levais a mal, que tome parte nos brincos e jogos de cavaleiros?
— Ao contrário, filho. Lograi a vossa mocidade, que perto vem o tempo dos cuidados; e bem aziago é quando não se tem nos maus dias uma boa lembrança para consolar o espírito.
— Acho-vos hoje mais triste que de costume, mestre; alguma coisa vos amofina?
— É próprio da velhice; quando a idade é muita e a saúde pouca, sobram os enfados e mínguam as esperanças. Mas não semeemos flores em cinzas, que não brotam; dizei-me antes, se estais contente e satisfeito, se contais que ninguém vos dispute hoje na galhardia e boas manhas?
— Farei o que em mim estiver; e ajudando Deus, espero dar-vos algum prazer.
— E as roupas estão ao vosso agrado? Ajustam-vos bem? São de fino estofo? perguntou o velho com terna solicitude.