— Guardai-a, e o segredo que ela encerra, como um arcano; tirai exemplo da desgraça de Robério.

— Não pode estar melhor do que em vossas mãos, respondeu o moço entregando-lhe o papel.

— Não, filho, um velho fraco e inerme, é má guarda de tesouro tamanho, a alma é impenetrável, mas o corpo facilmente se quebra. Sois moço e valente cavalheiro; a riqueza mudou-vos de repente a carreira; habituai-vos desde já a trazer a vossa fortuna, como a vossa honra, na ponta de vossa espada.

— Então vossos projetos?...

— A Providência acaba de destruí-los.

Mais estabelecidos das comoções por que tinham passado, o velho voltou ao seu almoço, e Estácio escondendo no seio o papel, dispôs-se a partir.

— Uma coisa porém me parece obscura ainda.

— Apontai-a, filho, que vo-la explicarei podendo.

— Por que esta carta que continha tão importante revelação estava ainda fechada com o fio preto que a selava? Por que nunca minha mãe falou-me dela? Quem a entregou?

— O escrito traz a data de 28 de setembro de 1604; que no mesmo dia partisse de São Sebastião, devia chegar aqui meado de outubro; vossa mãe já estava sacramentada; uma semana depois rezávamos