— Bom! bom!... Não nos azoineis com o vosso falsete! Segui adiante, e trazei-nos do melhor, que é o senhor licenciado quem bebe, e eu quem paga. Ouvides!
O advogado quis contestar.
— Então, homem! gritou o cantor com a sua mais cheia voz de baixo profundo. Ainda me estais aí feito um estafermo?... Presto!... Em três tempos!
Bartolomeu levantou dois dedos sós para bater o compasso ternário. O Brás eclipsou-se como um relâmpago, e voltou logo com uma candeia na mão direita, pichéis na esquerda e duas botelhas sobraçadas. Abrindo a porta do corredor guiou os dois fregueses a um camarim reservado para as pessoas de condição que não gostassem de se misturar com a gentalha. O taberneiro deitou sobre a mesa as garrafas e os pichéis, feito o que desapareceu pela porta em três profundas reverências.
A espessa crosta de pó e as grossas teias de aranhas de que estavam cobertas as duas garrafas, atestavam sua respeitável idade. Quando mestre Bartolomeu Pires, com a delicadeza e antegosto de exímio bebedor que era, limpava docemente