vira a expressão travessa e viva de seu olhar, o sorriso malicioso, e a faceirice do gesto galante. Amores tristes e mal afortunados não vivem em crisálida assim dourada e brilhante. Que houvesse completa felicidade, também não era provável. Em certas horas, mais frequentes quando estava só e ninguém a via, a expansão de contentamento desvanecia: anuviava-lhe o rosto sombra fugace de melancolia, recordo ou pressentimento de mágoas.
E porque, em assunto de amores, “essa dor é tão palreira, diz o nosso João de Barros, que logo descobre o que sente o coração”, a crença geral decidia-se pela absoluta isenção da feiticeira mulatinha.
Entretanto a alfeloeira continuava a correr em todas as direções sem achar o que procurava. Não se podendo ter já de fatigada, sentara-se na soleira de uma porta; e começou de cantarolar um vilancete, olhando de longe para as janelas iluminadas do palácio.
O que Joaninha cantava a meia voz, era, se a crônica não mente, uma trova de Gil Vicente, em compasso de lundu: