— Escreve sempre, Raquel.

A moça sentou-se ao bufete e escreveu simplesmente as seguintes palavras:


Esta meia-noite há na Rua da Palma uma pessoa que ansiosamente vos espera.


Sobrescritou a D. José de Aguilar, e entregando ao velho Samuel a carta, retirou-se precipitadamente à sua recâmera. O amor casto e delicado que enchia o seu coração como um lago sereno, acabava de ser toldado por um lodo infeto e negro.

O alferes recebeu o recado escrito de Raquel nessa mesma manhã, poucas horas depois da cena passada em casa do judeu. Imagine-se qual não foi sua alegria, e a vaidade de que encheu-se, por tão famosa conquista. Nesse dia recolheu cedo a casa para ataviar-se com primor; e mal foi tangido o sino de recolher, já ele media de uma à outra ponta a calçada da Palma, como uma sentinela de posto de guarda.

À meia-noite em ponto ouviu afinal abrir-se a rótula do sobrado, e a voz maviosa chamar por ele e perguntar se aí estava. A outro mais observador do que o alferes não passara desapercebido o tom resoluto e o modo desembaraçado