breve palavra um abismo de sensualidade e depravação.

O lábio da judia encrespou com a chama ofegante que lhe exalava do seio, envolta na respiração. Sua pupila grande, negra e aveludada, desviando do semblante do moço, escondeu-se sob as pálpebras a meio cerradas, porque lhe repugnava chafurdar no lodo daquela alma. Mas vencendo esse ímpeto de nojo, a moça procurou no cinto orlado de perlas que lhe ajustava o corpilho, uma pequena chave de ouro, que mais parecia de algum cofre de sândalo ou marfim; era a da sua recâmera virginal, cofre de beleza, inocência e castidade.

— Eis o preço do serviço! Aquele que em dois dias me trouxer a palavra e o papel pedido, será senhor desta chave e de quem ela guarda. Compreendeis agora?

O sangue do alferes ferveu-lhe nas veias.

— E Samuel consente nisso?... disse ele pasmo.

— Samuel tem a alma de Abraão, e sacrifica o amor de sua filha à religião de seus pais!...

— E também à ganância que espera!... Mas outro que o ajude a pilhá-la, não eu!... disse o